sexta-feira, 23 de abril de 2010

Fé. Escrevi essa palavra inúmeras vezes antes de começar esse texto, talvez por achar que a insistência trouxesse algo pronto à mente, ou por acreditar piamente que o exercício repetido de tê-las em meus dedos a acentuaria pra mim. Fé. Com todas essas promessas anuais eu resolvi fazer uma que realmente valesse à pena: aumentar minha fé. Esqueci-me, porém, que não sei como, nunca ouvi alguém dizer: ei, pacotes de fé embalados à vácuo, 3 por 2. Seria tão mais fácil. A questão é que prometi, aliás, apenas desejei que esse fosse um dos inúmeros desvios de rota pra minha vida, ou, quem sabe, retorno à rota original.
Esse meu ceticismo na vida tornou tudo mais cansativo. Hoje, mais do que nunca, sei que “não adianta ir com muita luta e pouca fé” e não o contrário. Mas me pergunto: por que é tão simples pra maioria das pessoas, parece tão verdadeiro, dócil e ingênuo, por que não posso ter, não posso permitir que inunde minha vida e que eu não precise de respostas pra tudo, precise apenas acreditar ? É horrível, logo pra mim, que sei todos os contos de fadas, quase todos os personagens de desenhos - conheço a magia, mas não a sinto. Ei, eu fui falsa ? Eu repasso, eu dôo, mas não sinto. Pode existir ? Eu sinto em parte, mas eu não quero partes, quero algo integral, algo que vá fundo e diga: é isso, pronto, ou então: não, não quero viver assim. Mas eu já sei a resposta antecipada, eu trapaceio antes de experimentar meu próprio jogo recém-criado. Não tenho porque se tiver um pouco não vou voltar atrás. Sempre achei que a certeza era para aqueles que não amavam o bastante, e eu queria amar – o bastante. Vejo que a certeza absoluta, essa sim, é para aqueles que amam o bastante. Mesmo que a possibilidade que você esteja certo seja remota, que a sua certeza seja de fada-dos-dentes visitando seu travesseiro. Ame sua intuição. Arrisque-se, por favor. Bastante esclarecedor.

Obs: Essa fé que falei não foi sobre religião, embora acredite que um aumento substancial na mesma sempre é bem-vindo.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

laços

"... Há semanas ela vinha pensando naquela conversa que ocorrera na segunda. Cada palavra soara como um objeto pontiagudo perfurando cada camada de pele, lentamente, sem anestesia, dor física confundindo-se com a psicológica.
Chegara a conclusão que laços sempre fizeram isso com ela. No começo, o êxtase do inovador, do diferente, tomando conta de cada célula do seu corpo. Depois, a responsabilidade da escolha, pacto, seja lá que denominação devia receber. Era eterno, sabia, e sabia antes de sê-lo. Poderia ter evitado, mas a segurança é o próprio perigo, suprimia a dose extra de adrenalina.
Tarde demais. Depois que duas almas entrelaçam-se é tarde demais. Como duas coisas sem forma, compostas de, quem sabe, luz e ondas, romperiam-se ? Talvez uma resultasse maior que a outra depois da divisão, achava que era isso mesmo que ocorrera. Por isso sentia-se oca - em parte. Aquela outra alma havia levado um pedaço da sua. Não acontece em qualquer amizade, além da escolha havia a compatibilidade, como enzimas de restrição. Tivera sorte em ter os dois, e ficara feliz em saber que uma fatia sua estaria sempre com alguém que já fora, um dia, inteiramente seu ..."

segunda-feira, 5 de abril de 2010

polo norte

Esferas hermeticamente isoladas, convivendo somente em um mesmo espaço, incomunicáveis. Acho que já foram, algum dia, englobadas, lisogênicas, não hoje. Mas quem sabe, o mundo está cheio dessas esferas multicoloridas, redondas, e tudo o que é redondo gira, e tudo que gira tem um ciclo, e todo ciclo se repete.

cronômetro

Porque aquela sensação ruim que a gente sente é aquilo, e só tem aquilo, um momento, milionésimos de segundos repetindo-se incontáveis vezes, iguais, pausas insignificantes aos olhos. Porém, ultrapassa. São diferentes, com transições "picoscópicas", perceptíveis apenas num todo.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

fix you

Eu só queria vir aqui dizer o quanto você estava errado. Não que eu goste de apontar seus erros, como você sempre dizia, nem de te ver tentando incobri-los e revertê-los para mim. A questão é que agora se passam mil coisas à cabeça, gostos no nariz, cheiros nos olhos e olhares na boca. E apesar de odiar essas confusões numa só direção, uma carga imensa de uma vez, sem avisar, sem pedir licença para entrar, eu queria mesmo era dizer que você continuava sendo uma das melhores pessoas que eu já havia conhecido, e que era incrível ver em você todos os defeitos que eu odiaria ver em uma só pessoa. Era extremamente dolorido vê-los assim, insuportáveis, tornando-se suportáveis porque estavam em você, e vinham camuflados por esses olhinhos; de brinde. Sempre seria doce. Eu realmente não me importava em tê-los, desde que viessem com essa pessoa, perto, ou longe, mas sabendo que estavam no único ser que importava.



o único.