quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Vivacidade


Desde pequena, ainda quando mal sabia multiplicar dezenas, descobriu que gostava de intensidade. Cresceu e, milagrosamente, não mudou de idéia. A intensidade sempre fez parte de sua vida, mesmo que, às vezes, de forma indireta. Quando, finalmente, achou que havia se enganado, lá vinha ela de novo, provar seu destino. Todos os dias, ao acordar, pedia ao Ser que regia o mundo a mesma coisa: vivacidade. Não aceitaria de forma alguma uma vida mediana, aliás, não suportaria tal vida. Sabia que havia algo mais lá fora, e queria provar de tudo, porque o tempo era curto e não perdoava. Não aguentava escutar histórias melancólicas de pessoas mornas, e achava absurdo quando as mesmas não se lamentavam por isso. Não estou dizendo que era um exemplo de alegria, não era, e agradecia por isso. Viver ultrapassava esses parâmetros invariáveis, e odiaria se tivesse que permanecer a mesma. Gostava mesmo era das diversas emoções que, felizmente, estavam ao alcance de todos, mas que nem todos sabiam. Como é triste ter tudo e não saber usar, é como uma criança que tem brinquedos mas não tem amigos: são só duas mãos para a infinidade. Ao final, restava aceitar esse comportamento - e o seu, em segredo, levava como um presente.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Final da fila

Bem vindo ao mundo.

Escolha um nome. Escolha uma escola. Escolha amigos. Escolha um esporte. Escolha cursos. Escolha uma língua. Escolha a cor do quarto. Escolha roupas. Escolha um animal de estimação. Escolha dois. Escolha uma fruta preferida. Escolha flores. Escolha um perfume. Escolha as melhores amigas. Ache um amor. Dois. Escolha um presente. Escolha uma viagem. Escolha outra escola. Escolha permanecer em um esporte. Ache uma profissão. Escolha uma cidade. Escolha uma nova casa. Escolha os móveis. Escolha os livros. Escolha bolsas. Escolha pessoas novas. Escolha filmes. Escolha músicas. Escolha lugares para frequentar. Escolha uma comida. Escolha um doce. Seja doce. Escolha cortinas. Escolha uma letra. Escolha lápis-de-cor. Escolha relógios. Escolha um corte de cabelo. Escolha um celular. Escolha festas. Escolha dançar. Escolha um sonho. Escolha menos distância. Escolha sorrir. Escolha tapetes. Escolha desenhos. Escolha porta-papéis. Escolha bichinhos de pelúcia. Escolha ideais. Escolha escrever. Escolha correr. Escolha sorvetes. Escolha abraços esmagadores. Escolha beijos na testa. Escolha uma vida.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

As aventuras de Alice no País das Maravilhas

"De nada vai servir que eles ponham a cabeça e digam aqui para baixo: ‘Volte, querida!’ Eu olharei para cima direi somente: ‘Quem sou eu, então? Respondam-me primeiro, e então, se eu gostar de ser essa pessoa, voltarei; se não, ficarei aqui embaixo até que eu seja outra’."

sábado, 3 de outubro de 2009

mapas


Estava me sentindo estranha, querendo "me descobrir". Logo eu que nunca fui organizada nem com minha gaveta de meias, queria organizar minha vida, estabelecer prazos para qualquer ação, eu que nunca disponibilizei um tempo significativo pra achar respostas que eu sabia que viriam com o tempo, e que mesmo se eu ficasse horas e horas nunca teria nada como absoluto, me vi confusa, querendo delimitar cada passo. Tá, e como eu não sou dona da razão pra sempre saber como agir, deixei me levar pra ver aonde chegaria.

Sei que mesmo quem tem a certeza de "se conhecer" sempre se surpreende com alguma atitude, o que é completamente natural, porque o ser humano é feito disso mesmo: ideais e um punhado de magia, e é essa magia a qual proporciona essa dualidade de pensamento em mim; é um misto entre querer desvendar o ser humano ( uau ) e ao mesmo tempo não querer, seja por medo ou por ser simplesmente normal deixar que as coisas aconteçam sem planos. Também sei que já disse várias vezes que a graça é o mistério, mas é bom, às vezes, saber onde você pisa e saber o que você quer. Só às vezes.

Passei alguns dias com essa idéia louca de querer mapear meu cérebro, e com a mesma rapidez em que decidi fazer isso, desisti, e fiquei com vontade de rasgar todas as tentativas de mapas já feitos por mim, até porque ainda não descobri ninguém que tenha feito um com todas as coordenadas corretas, sem desvios de rotas, sem estradas obstruídas. E se for pra ter de ficar com um mapa incoerente, com atalhos repentinos, prefiro ficar sem. Aceito, no máximo, uma advertência, uma plaquinha escondida nos arbustos pra me dar uma noção - afinal, ninguém é louco de querer passar a vida toda no subjetivismo. Mas é só isso que me permito saber, só até onde vai o final da rua, mas não a cidade inteira.